Powered By Blogger

Translate this page

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

*** PERU - Inca, Colonial e Trilha de Salkantay

 Atenção ! ! !
Você poderá vêr também neste Blog:
                                
              *** DO ATLÂNTICO AO PACÍFICO (de moto)

             *** ROTA DAS MISSÕES Jesuíticas/Guaranis (de moto)...


             *** QUATRO REGIÕES BRASILEIRAS;UM ACIDENTE DE MOTO...


             *** "CANAL DU MIDI", França (de bike), e um pouco da Espanha.


                        - COMPOSTELA - Dos Pirineus ao Fim da Terra (de bike)

____________________________________________________________________________________
- PERU -
Inca, Colonial & Trilha de Salkantay
                                                            
                                                             Junho de 2011

                                                                                                (Fotos e Texto: Nilceu Mario Moro)

                                                                                                moronilceu@gmail.com

Quarenta anos ouvindo o “chamado” do topo daquela montanha...  E sempre adiando...
O que nos falta às vezes para sermos mais impulsivos? Se sabemos que não vamos nos arrepender da empreitada sonhada? Falta-nos às vezes uma impulsividade responsável com algumas pitadas de irresponsabilidade! E também um empurrão...

E o empurrão veio. Estavam para vencer as milhas aéreas a que eu fazia direito e então pensei: “ O Chamado”, Machu Picchu ! ! !


   “O propósito da vida é a maturação da alma”
                                                                                   (desconheço o autor)

Nos dias de hoje, começamos a planejar uma viagem através da internet porém, são tantas as informações, são tantos os fóruns desencontrados, são tantas “dicas” descabidas que corremos o risco de não sair de casa pois, o mundo lá fora se torna demasiadamente grande e ameaçador e nós, demasiadamente pequenos e vulneráveis.

Um exemplo: “É impossível viajar ao Peru sem ser assaltado!”. Exagero, claro!

Porém muitas coisas conseguidas na WEB são de grande auxílio desde que as filtremos adequadamente.

Machu Picchu é a meta, mas eu não queria resumir a viagem a isso. Meu interesse, entre outros, é ir à pé de Cusco à M.P. por trilhas Incas porém, atualmente a tradicional e famosa trilha que se faz em quatro dias está limitada em seu acesso a 500 pessoas por dia (no total são 2.000 pessoas por dia dentro da mesma) e deve-se fazer a reserva e pagar pelo seu uso, hoje com pelo menos três meses de antecedência. São resoluções do governo peruano e da UNESCO com a justificável intenção de preservá-la. Também, uma vez feita a reserva, esta somente vale para o nome da pessoa que a fez. Muito justa também esta decisão pois, isto impede que reservas sejam feitas em nome da “laranjas” e depois, alegando desistências, “cambistas” as vendam por várias vezes o valor real para afoitos estrangeiros.

                                 A trilha de Salkantay




Existe como opção e que (ainda) não requer reservas, a “Trilha de Salkantay”.
- Mais longa;
- Mais cansativa;
- Mais gelada;
- Maior altitude alcançada... E por isto, menos procurada.

Porém, diz-se, com paisagens naturais mais deslumbrantes que a tradicional apesar de não se passar por ruínas ao longo do percurso como ocorre com sua co-irmã.

É uma rota de extremos:
- Altitudes que vão de suportáveis 1.850 à incômodos 4.600 metros acima do nível do mar.
- Temperaturas variando e podendo chegar de -5°C à +26°C;

- Vales férteis com rios e cachoeiras; terras áridas; matas fechadas;
- 78 km de caminhada na imponente cordilheira de Vilcabamba.
Estou confiando nas minhas costumeiras atividades físicas que, apesar de relativamente leves, tenho por hábito praticá-las quase que diariamente.
 
Existe uma opção de pacote para esta mesma trilha que é completada em mais dias (sete, me parece), onde os andarilhos são recebidos para pernoites em "Lodges" com lareiras, restaurante, calefação nos quartos e cama com edredon, banho quente, jacuzi ao ar livre, roupão branquíssimo macio e felpudo, "chinelas", vinho, jantar em alto estilo, têm os seus calçados e roupas postos para secar... Durante a caminhada, mulas levam as mochilas... Assim também não tem graça, né? Tô fora! Sem contar que este passeio custa até US$2.000.00 (dólares) se contratado em Lima ou em Cusco. Se contratado aqui no Brasil, chega a custar US$4.000.00.

Além de M.P. e da referida trilha, me interessa muito conhecer nesta viagem os sítios arqueológicos e as construções coloniais espanholas em Cusco e, se sobrar tempo, também em Lima.

A Viagem

Como de praxe, fiz o convite de praxe para ser acompanhado... Vou sozinho...

Desta vez a motocicleta ficou em casa.


Enfim, 14/06/2011, feitas as malas (mochila e sacola) com o mínimo de “tralhas” possível (se faltar alguma coisa, tirando o Passaporte, simplesmente compra-se lá), embarquei de Curitiba para Lima (cerca de 5 hrs de vôo ao sair de São Paulo). Viagem apreensiva devido ao mundo de coisas pela frente. Chega-se a pensar: “Porque estou metido nisso? E chegando lá, o que vou fazer? Por onde começar? Não programei hotel e nem a ‘Trilha’... Como suportar os famosos assédios de vendas de produtos ou pacotes ao descer do ônibus em Cusco?”

Câmbio de moeda:  N/.1,00 (Um Novo Sol peruano) = R$ 0,57 (Reais, Brasil).

Chegando no aeroporto em Lima, apanhei um taxi e fui direto para a rodoviária para apanhar um ônibus e ir para Cusco, meu “Q.G.”. Aí começaram as dúvidas. Lima não tem uma rodoviária, têm vários terminais, mais ou menos próximos um do outro, pertencentes cada um a uma empresas de ônibus diferente... Ou seja, possui várias rodoviárias.

O taxista me deixou numa delas e depois de três ou quatro horas eu estava a caminho de Cusco, o “Umbigo do Mundo” segundo afirmavam os antigos Incas e, moderna e justamente denominada atualmente como a “Capital Arqueológica das Américas”.

De avião se vai à Cusco em uma hora. De ônibus, devido às infindáveis curvas, aclives e descidas dentro dos Andes, se demora cerca de 22 horas para cerca de 1.100 Km. O segundo meio de transporte, (N/. 100,00 ou R$ 57,00 com todas as refeições inclusas) foi uma opção (para mim) acertada.

Às 16:00 hrs sai de Lima. Não demorou a escurecer e como havia acordado muito cedo (03:15 hrs) para tomar o primeiro avião naquele dia, adormeci logo (coisa rara).

Acordei quase amanhecendo o dia, gelado. O ônibus, apesar de panorâmico (consegui uma poltrona no 2º piso, bem na frente), não era lá estas coisas, sem calefação eficiente e por isso, a condensação interna sobre os vidros das janelas havia virado gelo em vários pontos. Raspava-se o fenômeno com a ponta dos dedos.

O dia amanheceu e aí veio a recompensa. Paisagens andinas de tirar o fôlego. Por várias vezes o veículo desceu e subiu dos cerca 1.800 m.s.n.m. (metros sobre o nível do mar) a cerca de 4.000 m.s.n.m. Visual lindo com cumes nevados, montanhas e mais montanhas, pequenos e rústicos povoados, cidades medianas e, às vezes, a visão do incrível serpenteado da estrada por vales e encostas.

Às 14:00 hrs cheguei sobre um local alto de onde se tinha uma panorâmica de Cusco lá em baixo. A cidade me pareceu muito maior do que eu esperava... Preocupação. Onde ir? Onde ficar? Por onde começar?


Chegando em Cusco
Desci do ônibus meio tonto e já fui rodeado por toda a espécie de vendedores. Desde pulseiras artesanais à grandes Pacotes Turísticos. Desconfia-se de tudo e de todos.

O terminal rodoviário não era no centro da cidade, na Plaza de Armas, como eu imaginei e gostaria que fosse onde eu poderia me misturar às pessoas sem parecer um recém-chegado e pedir informações com calma.
Livrei-me dos insistentes fornecedores com desculpas de que já tinha tudo (na realidade eu não tinha nada e menos um pouco) quando encostou ao meu lado uma jovem senhora, muito bem apessoada com um moderno corte de cabelo me entregando um “folder” de uma pousada dizendo que havia “acomodacion” com “baño” (banheiro) anexo, próximo à Plaza de Armas (que sempre é o centro de tudo em cidades colonizadas por espanhóis) por S/.40,00 (quarenta soles) a diária com desayuno (café da manhã). Eu, sem saber de preços, disse que era muito para mim (no Peru tudo se pechincha, aprendi cedo), ao que ela falou: “Quanto usted quiere pagar?” Eu disse que poderia pagar até S/.20,00 (R$ 11,00). Ela disse: Está bom. Venha comigo.

Acompanhei-a até o estacionamento onde um homem esperava ao lado de um bom carro (considerando o padrão visto nos arredores) que abriu o porta-malas, colocou minhas coisas dentro, convidou-me a sentar no banco de trás enquanto ele e a senhora “Chique” sentaram-se na frente.

Quando dei por mim, carro em movimento e portas travadas, “me pensei”:

“Sou um idiota! Ela aceitou muito facilmente o preço que ofereci pelo alojamento. Agora serei sequestrado, espoliado, morto e corpo dissolvido num tambor com ácido! Só vão dar pela minha falta daqui a duas semanas (data do retorno), isto se a família achar por bem me procurar!”


Típica rua de Cusco

Calçadas que vão de 20 a 40cm de largura, em que o transeunte, dependendo do lugar onde se encontra, ao passar um veículo, tem-se que ficar de costas para a parede e encolher a barriga para não ser atingido pelo retrovisor. Paramos em frente a uma porta com um imediato buzinaço dos carros que vinham atrás (em Cusco se dirige buzinando, um inferno) e saímos, eu e a Shari (a senhora), do carro e entramos na Hosteria. Fiquei muito feliz (e aliviado pela manutenção da minha vida) com mais esta conquista que apesar de parecer pequena, torna-se grande para quem está cansado, apreensivo e perdido. No meu quarto não havia janelas (só a do baño). Nem havia lâmpada e nem porta no banheiro, o chuveiro não esquentava muito (e o clima estava frio), papel higiênico e sabonete (como me acostumei depois em outras paradas) tinha que ser comprado separado, toalha só com muita conversa, e às vezes era cobrado o aluguel da mesma. No quarto, uma mesa, um criado mudo e alguns cabides na parede. Tudo muito austero e espartano porém aconchegante (e mais a grande simpatia e atenção do pessoal da pousada). Justifíca-se tudo isto pois esta, como a maioria, era uma secular construção Cusquenha que para ser “mexida” (reformada) carece de autorização de órgãos locais visando a preservação ao máximo das construções da cidade. Aprovo!
Querendo mais conforto, Cusco oferece varios padrões de hospedagem dependendo de quanto você se dispor a pagar e/ou como quiser se sentir... Ou em uma cidade secular ou numa grande metrópole enquanto estiver dentro de um hotel. Quanto a isto, eu não tive dúvidas na escolha.

No centro da cidade o carro entrou por uma estreita rua. Quando digo estreita, é uma rua que mal cabe um carro, com calçada para pedest
Também, eu estava fazendo parte daquilo que eu me propusera ser nesta viagem: Um autêntico “mochileiro”.

Clynton
O macaquinho Clynton (o menorzinho...)


Como “regalo” extra desta pousada, ali vive o macaquinho “Clynton”. Ágil em se apoderar de qualquer coisa das mãos dos hóspedes. Meu “voucher” da trilha quase foi picotado num brevíssimo descuido.

Também, às vezes, ou muito carinhoso, ou muito agressivo, ou muito malcriado porém... sempre imprevisível.

Tamanho é o seu domínio carismático na pousada que as pessoas que ali vivem o chamam de “Tesouro”.

Hospedaje Iquique
Calle Recoleta nº 574
Telf. 51-84-225880 / 270470
www.hostaliquiquecusco.com
Cusco - Peru


Eu estava muito bem instalado, e devia estar pagando por isto (R$11,00 a diária), pois é comum mochileiros de vários lugares e sem se conhecerem, ficarem num mesmo quarto com vários beliches e sem banheiro privado. Vi alojamentos assim. Imaginem a bagunça e confusão que reina em tal recinto... Porém, não se tem comumente reclamações de apropriações indevidas.

Têm os habitantes de tais alojamentos, como regra (e talvez única), o saudável hábito de deixar suas botas de caminhada do lado de fora do quarto. Pelo menos isso. Nestas paragens coloca-se tal calçado nos pés pela manhã e só o retira tarde da noite.

Um ”talquinho” anticéptico resolveria mas... Depois lembrei que eu era um “estranho no ninho” pois, estava num meio frequentado quase que exclusivamente por jovens.

Negociando a Trilha

Desfeita a bagagem para tomar um ar e feito um breve descanso, fui novamente conversar com a Shary, a dona da hosteria. Ela também é envolvida com o turismo da cidade e prontamente se propôs a me incluir num grupo para fazer a Trilha de Salkantay.

Pedi que o meu treking se iniciasse dali a dois dias pois, estando Cusco a 3.350 m.s.n.m., eu queria aproveitar para me adaptar um pouco mais à altitude (que seria em média a mesma durante a trilha), para poder suportar melhor o esforço físico da caminhada carregando uma mochila.

Paguei para fazer a trilha, US$ 170.00 (dólares americanos).

Isto incluía guia profissional, barraca, forro para dormir em cima, café da manhã, almoço e jantar, cozinheiro e ajudante, arrieiro com dois ou três cavalos para levar a parte logística (barracas, água para cozinhar, comida, utensílios de cozinha, fogão, gás...), também fazia parte do pacote o hotel na última noite em Aguas Calientes, ingresso para entrar em M.P., trem e ônibus de retorno para Cusco. Cada caminhante levava sua mochila.

Conversei depois com uma brasileira que, para os mesmos serviços, pagou US$460.00. Ela havia contratado o serviço via internet via operadores do Brasil antes de viajar. Nesta parte a internet me ajudou muito e não caí nesta armadilha.

Mesmo em Cusco chega-se a encontrar diferenças de mais de US$100.00 entre uma agência e outra e depois, juntam todo o pessoal de várias agências e preços num único grupo e guia com tratamento igual para todos.

Cusco

Saí para as primeiras incursões em Cusco, já a noite, um pouco ofegante devido a falta de ar ocasionada pela altitude da cidade.


A Cidade de Cusco é indescritível, fervilhante, gente de todo o mundo, construções coloniais fantásticas, iluminação bucólica à noite. Está a 3.350 mts de altitude, frio de zero ou abaixo, nas madrugadas nesta época do ano.

Catedral de Cusco
Igreja da Companhia de Jesus - Cusco
Cusco
Proliferam lojas, hotéis, hostais, restaurantes, lanchonetes, vendedores, agências de turismo, agencias de câmbio, casas de massagem... etc. Tudo ao redor ou próximo à Plaza de Armas.  Num breve passeio já deslumbra-se com as grandes igrejas e demais construções coloniais e as fundações Incas de pedras margeando as ruas e sobre as quais foram construídas edificações de alvenaria “modernas”. Muitas, ainda do período da conquista espanhola, ainda existem.

Nesta cidade sobraram apenas as bases (enormes às vezes) de pedras perfeitamente encaixadas, em muros com um, dois, três ou quatro metros de altura e sem o uso de qualquer tipo de massa de união. O que foi feito do restante destas construções? Demolidas e usadas as suas pedras para prédios coloniais, ruas, calçadas, igrejas...





Vê-se em vários pontos da cidade à noite, principalmente em praças, grupos de jovens dançando uma coreografia estranha para nós ao som de tambores e flautas.

Às vezes por distração e em pequenos grupos. Às vezes em grupos maiores e mais organizados ensaiando para as muitas festas de junho em Cusco (que eu evitaria se soubesse).
  A Bandeira de Cusco

                                                                            




                                                                              Viela no centro de Cusco - A famosa pedra dos 12 ângulos.            










Igreja de São Pedro - Cusco

Casas de Massagem

Há em Cusco, muitas casas de massagem. Pessoas nas suas portas distribuindo folders e oferecendo serviços. A princípio, maldosamente, não tive dúvidas da espécie de serviços prestados ali além da massagem em si porém, curioso e para tirar dúvidas, indaguei sobre isto. Falaram que era tão somente massagem, na mais pura concepção da palavra.

Passando alguns dias por aquelas paragens, andando como um camelo, subindo e descendo ladeiras, compreendi o porquê de tais recursos disponíveis e certamente procurados.

Comida e bebida

Quanto à comida nos lugares que passei, o(a) amigo(a) sabe: Tem para todos os gostos e bolsos em qualquer lugar do mundo que se vá.

Porém, no "popularzão", que é o que eu frequentava como bom mochileiro, todas as refeições começam com uma substanciosa sopa, que já bastaria para saciar a fome. Depois vem o prato principal que quase que invariavelmente, predomina o "Pollo con papas" (frango com batatas) um pouco gorduroso e mais arroz, saladas... Acompanhado de um fumegante refresco (quente mesmo) depois, vem uma sobremesa que normalmente é um sagu ou uma gelatina, quase sempre quente também. Por fim, um "té" (chá). Tudo por dez soles (+/- R$ 7,50). Depois descobri, pertinho da pousada onde eu estava, as mesma e boa refeição por cinco soles (R$ 3,75).

Não se pode ir ao Peru sem provar o “Pisco” (pisco sour), mesmo sendo abstêmio em álcool.

Peru e Chile brigam à muito pela paternidade desta bebida. Os dois lados apresentam provas convincentes que foi este ou aquele quem inventou o aperitivo.

Há diferenças sutis no preparo entre os dois países.

No Peru é feita uma mistura de aguardente peruana feita de uva, clara de ovo, suco de limão, açúcar e gotas de angustura. Tudo liquidificado. Uma delícia. Cremoso. Tem-se vontade de bebê-lo como refresco mas... não demora muito e tudo começar a “rodar” .

Os Sítios Arqueológicos

No dia seguinte participei de um “Tour” pelo “Vale Sagrado”.


Rodamos mais de 200 km em um micro-ônibus, com guia profissional, com um super almoço e visita aos sítios arqueológicos de Pisaq, Urubamba, Chinchero e Ollantaytambo. Monumentais construções Incas. Tudo por S/.40,00 (R$ 22,80).


                                                                            
                                                             Pisaq - Vale Sagrado



                                                           Ollantaytambo - Vale Sagrado
                                                       Ollantaytambo - Vale Sagrado

 Ollantaytambo - Vale Sagrado


                                                                               Foram mais de 10 horas de passeio repleto de embasbacamentos.

Em Chinchero, além da sua singela Igreja do séc. XVII e da cidadezinha, há a famosa feira de artesanatos dos habitantes locais.


Uma artesã de Chinchero
Igreja do séc. XVII - Chinchero -


Na manhã seguinte, novo passeio pela “Cidade Eterna das Américas”, como seu povo gosta e tem orgulho em chamá-la.

Fui brindado com um grande desfile em honra ao jubileu de Cusco com Escolas Fundamentais, Faculdades e outras Entidades em que cada agremiação se apresentava ao redor da Plaza de Armas acompanhada pelos seus próprios tambores e flautas (basicamente) e fantasiados com trajes típicos prodigamente coloridos. Bailavam animadamente. O “cusqueño” me pareceu um povo muito alegre e festivo.


                                





À tarde, novo “Tour”. Desta vez mais próximo à periferia da cidade.

Visitamos Sacsayhuaman, Kenqo, Pucapucara e Tambomachay. Também num micro-ônibus e guia por S/.16,00 (R$ 9,12).

                                                                         Sacsayhuaman

Tentam os guias locais, embasados em estudos de arqueólogos locais e internacionais, desmistificarem atos extraterrestres ou místicos nas perfeitas e imensas construções dos Incas.

Até aí, tudo bem. Procuremos desvendar os mistérios, mas não se podem aceitar explicações tão simplórias para o que foi feito por aqueles homens.

- Dizer que usavam uma pedra mais dura com areia para moldar a pedra a ser usada na construção ou dizer que usavam fragmentos de ferro “in natura” para desbastes é muito pouco para a cabeça do mecânico aqui para os resultados conseguidos... Quando necessários, os blocos de pedra eram confeccionados em linhas retas perfeitas. Faziam isto esfregando uma pedra na outra???

Em encaixes com arestas irregulares imaginem quantas vezes seriam necessário encostar uma pedra na outra para conferir até que os encaixes (às vezes pedras com mais de dez arestas frontais) ficasses perfeito como são, e sem “matar” o trabalho com frequência...? E quando estas pedras a serem ajustadas umas nas outras pesassem várias toneladas e tendo que encostar uma na outra várias vezes?

Ollantaytambo


Ollantaytambo


Quanto séculos isto demoraria considerando os milhões de blocos existentes? Diz-se que a ferramenta mais dura que tinham, era feita de cobre.

- Dizer que as pedras eram arrastadas, inclusive atravessando rios, pelo povo usando cordas feitas de fibras vegetais e couro de lhama, também é muito prá minha cabeça... Vi pedras de seis metros cúbicos de muitas toneladas no alto de montanhas e a pedreira de onde foram retiradas, localizada numa outra montanha do outro lado de um vale... Diz-se que eles não conheciam a roda... E ainda neste caso, como que quatro monolitos semelhantes, como vi em Ollantaytambo, de seis metros cúbicos, foram removidos do núcleo da sua pedreira? Dinamite?


Ollantaytambo

A pedra acima foi retirada do lado de lá
e transportada para o lado de cá do vale
                atravessando um rio...

Ollantaytambo
                                             

Até acredito que Incas de carne e osso possam ter feito tudo isso, mas não acredito que as explicações de como, sejam suficientes.

E o trabalho absurdo? Milhões de pedras esculpidas e carregadas morro acima... Como se conseguia fazer aquele povo trabalhar daquela maneira?

Prá isto eu tenho a explicação que captei numa das explanações de um guia quando se referia a um outro assunto. Explicou ele que três coisas não eram admitidas, inclusive passíveis de severas punições tanto para os Incas como para os povos dominados por estes: Mentir, Roubar e... e... Ter Preguiça!!! Bingo!!!

Também captei numa outra explanação de um guia profissional de que na época do domínio estrangeiro, certo religioso, observando as perfeições das construções Incas, escreveu para a corte espanhola dizendo que: “Tais trabalhos não poderiam ter sido feitos por mãos humanas” (certamente ele considerava a falta de ferramentas e tecnologia por parte dos Incas para tais obras).

Sobrando então para o Diabo (ainda não “existiam” ETs naquela época) o crédito para tais trabalhos. Justificou-se, com isso, mais ainda a destruição dos mesmos até onde era interessante (lembremos que as bases foram mantidas e as pedras demolidas, reutilizadas).

Mas o que eu queria dizer com respeito à carta do religioso, é que isto, para mim (pensei depois em casa), denota que os conquistadores não chegaram a conhecer, pelo menos totalmente, as técnicas usadas pelos Incas para edificarem seus monumentos. Bingo!!!

Se eu fosse o dono do mundo, baixaria um decreto que, a exemplo dos Muçulmanos em relação à Meca, proibiria qualquer pessoa de morrer sem antes conhecer Cusco e seus sítios arqueológicos... e vejam que ainda nem fui à Machu Picchu!!!




                                                Q´enqo
                                      

Hoje eu tinha andado o dia inteiro. Era noite e eu ainda na rua. Até aí tudo bem e esperado se não fosse o fato de, no dia seguinte, às 04:00 hrs, eu ser apanhado no hostal para iniciar a esperada e temida “Trilha de Salkantay”. Sou novo ainda (solamente 63 anõs), acabo aprendendo.

------------------------------------------------


Iniciando a Trilha de Salkantay
Cheguei na pousada e fui avisado de que eu receberia a visita de um funcionário da agência que faria a Trilha, para ter um “briefing” sobre as atividades a se iniciarem no dia seguinte e se estenderem por cinco dias. Um pouco tarde, pensei. E se fosse recomendado um regime especial? E se precisasse comprar algo mais para a “andança”?

Fui avisado por ele de coisas básicas como roupas possíveis de serem usadas (estamos em pleno Junho), repelente contra insetos (para a parte de matas tropicais), protetor solar, levar documentos, dinheiro e da possibilidade de usar folhas ou chá de coca para combater o cansaço e a altitude...(vou tentar sem).

Informou-me também, creio que a título conforto, que eu teria, caso necessidade (ele viu minha cara anciã), a possibilidade de alugar um dos cavalos disponíveis no percurso para completar algum trecho mais árduo. Notadamente na subida do segundo dia de caminhada... Me pensei: “Nem móóórrrta!!!”

Fui para o meu quarto preparar a mochila que levaria equipando-a com o que julguei ser essencial e, num outro saco, separei as coisas que não precisaria e que o hostal se prontificou (como é de praxe nestas bandas) a guardá-lo até que eu voltasse, pois pretendia continuar hospedado ali por mais alguns dias até o dia de partir.

Com todas estas atividades, fui deitar às 11:30 hrs (tarde).

Por não poder “plugar” os ouvidos com tampões para poder ouvir o despertador (03:00 hrs), fiquei ouvindo também o pessoal no pátio com certa animação e que não amainava mesmo com as pancadas que eu dava na minha porta. Mesmo depois de feito silêncio, não conseguia dormir. Resumindo, o alarme tocou e eu havia dormido não mais que uma hora e meia naquela noite.

Eram 04:10 hrs, eu estava na recepção da pousada quando vieram me apanhar. Numa Van que percorreu outros pontos da City, foram arrebanhados os demais participantes do grupo. No total 17 “penitentes”.

Gente de:
- Alemanha (2 pessoas)
- USA (3)
- Bélgica (1)
- Hong Kong (1)
- França (2)
- Brasil (3)
- Israel (1)
- Noruega (1)
- Inglaterra (1)
- Taiwan (1)
- Peru (1)

Uma Torre de Babel. Fiz amizade e “conversei” com todos eles!!! Claro que com uns mais que com outros menos.

Na sua totalidade (exceção a mim, que constrangimento), as pessoas do grupo além de falar, é claro, a língua de seu País, falavam também o Inglês. E, quase na sua totalidade, falavam ainda o espanhol.

Saímos de Cusco e rumamos, ainda de van, para Mollepata, onde foi servido o café da manhã e onde começaria a caminhada de cerca de 78 km.

Início da trilha (à +/- 100km de Cusco




Foi um dia de adaptações e ao pararmos para o almoço, diligentemente preparado pelo nosso cozinheiro Vicente...

Preparo do primeiro almoço


 ... o tempo mudou com vento gelado e chuva. Por sorte esta não persistiu por muito tempo. Almoçamos e seguimos até Soraypampa, trilhando por encostas com bonito visual, onde seria o acampamento tradicionalmente de noite mais fria. Também já teríamos a visão da grande e nevada Salkantay.


Ao chegarmos logo foi servido um bem vindo e fumegante “té” (chá) e pipocas.




Ao anoitecer, tivemos sopa e um bom e completo jantar. As barracas já estavam armadas. Mordomias bem vindas para quem andou por pedregulhos, subiu e desceu quase o dia inteiro sem estar habituado. Porém, sem banho.

O céu noturno nos Andes, longe das cidades, é algo indescritível. Um negro profundo. Estrelas em quantidades que parecem nuvens. E o meu reencontro com a “Via Láctea” que desde os tempos de criança em Curitiba e mais recentemente nos Andes Chilenos eu não a via.

Aproveitei para dar uma "aula" para alguns dos meus amigos nórdicos, e seus vizinhos um pouco mais de baixo, de como se orientar geograficamente pelo “Cruzeiro do Sul” (eles têm a Estrela Polar para isto) independentemente da inclinação e posição em que ele se apresentava durante seu percurso celeste noturno (lições do tempo de exército). Eles acharam interessante e gostaram muito. Não vão mais se perder quando estiverem no hemisfério Sul...

Esta trilha intercala trechos originais Incas e estradas de rodagem que “engoliram” o caminho original. Passa-se, às vezes, por minúsculos povoados, notadamente nos locais dos acampamentos onde os habitantes locais têm vendas e se pode comprar coisas básicas como água, fósforos, sabonete, cerveja, refrigerante... por quatro ou cinco vezes o preço praticado nas cidades. Justíssimo. Literalmente é “o preço da água no deserto”.

Fomos acordados às 05:00 hrs no segundo dia, ainda escuro e estrelado com algumas nuvens . O dia seria árduo, o mais “puxado” entre todos onde atingiríamos a maior altitude. Amanheceu gelado. Só não vimos os campos cobertos de geada, sentenciei, porque havia um pouco de nuvens e neblina no céu. Curitibano é especialista nisso...

Começamos a andar no segundo dia. Umas três ou quatro pessoas do grupo optaram por subir à cavalo até o Passo de Salkantay.

Aclive regular, porém interminável. Horas subindo e parecia que aí estava a fama do tal “segundo dia”... Ledo engano...
Veja pessoas na trilha



Em determinado momento, começou uma acentuada subida numa encosta de mais ou menos 45 graus. A longa e fortíssima subida era feita em zig-zag... Penosa.


Sufoco !

Cavalos dando apoio

Terminar o tal zig-zag, foi motivo de comemorações.

Eu e o Belga, o Koen, fizemos uma boa amizade. Ele ficou espantado quando eu, como brasileiro, mencionei Eddy Merckx, ciclista da Bélgica dos anos 60/70, e aí conversamos  sobre o Tour de France, de ciclismo onde o citado atleta o venceu por quatro anos seguidos.

Este Koen é uma “figuraça”. Muito engraçado.  Ele está fora de casa já há sete meses. Viajando e conhecendo a América Latina além de outros “rincões”. Disse que tem que aproveitar enquanto não tem casa e família... e não sei se um dia vai ter, já está beirando os quarenta.  É muito forte.  A algumas semanas atrás, escalou uma montanha na Bolívia de mais de 6.000 m.s.n.m.  Havendo oportunidade, bebe cerveja mais do que seu corpo magro aparenta ter capacidade de armazenar.


Koen, o belga, e eu.

Terminado o Zig-zag e reagrupado o esparso grupo, mais subida, sem trégua. O pessoal à cavalo vinha atrás, cada qual com seu respectivo arrieiro (o homem que, a pé, conduz o animal pelo cabresto). Já havia presença de gelo no chão. Cumes nevados pelos lados.



Foi um grande momento e alívio quando cheguei finalmente ao “Passo”, a 4.600 m.s.n.m.  Lá já estava o belga e fizemos as primeiras comemorações aguardando o restante do pessoal chegar para a “foto em família”.


O dia não estava perfeito para o visual, porém isto não impediu que se tivesse uma fantástica vista da montanha Salkantay, bem a nossa frente, inexpugnável por alpinistas até agora, com seu topo encoberto pela neblina. Muito gelo no chão. Vento forte e, nem precisaria dizer, congelante.

Fim da Subida ! ! ! (neste dia...)




Um sonho realizado - Montanha com gelo e neve!

                                                               A foto "em família"

Havia uma precipitação de minúsculos flocos de neve. A temperatura calculada pelo guia (acho que de forma complacente e bondosa) era de -3 graus. Daí prá menos.

Apesar do frio naquele “place”, não tínhamos pressa de continuar. Não era sempre na vida que se “curtia” tal situação e momento.

Começamos a descer. Descemos tanto que após o almoço (sempre em horários diferentes), já nos encontrávamos em matas tropicais.


                                                              Agora, matas tropicais.

Depois de quase 10 horas de caminhada, chegamos ao lugar do segundo acampamento. Mesma rotina bem vinda do acampamento anterior “pero”, também sem banho.


O difícil de enfrentar  nesta trilha, quase sempre foram os banheiros dos acampamentos (um ou dois em cada local). Precários, portas caindo e sem trava (cheguei a ser pego com as calças na mão –literalmente– por uma colega do grupo), sujos, sem luz... Seria bem melhor o natural, oferecido pela Natureza... Mas impensável se considerarmos todas as pessoas  atendendo aos “chamados da Natureza” nas proximidades das barracas.

Choveu bastante durante a noite para a apreensão de todos. Estávamos enfrentando o frio de junho justamente para evitar a época chuvosa,  porém amanheceu com tempo bom. O terceiro dia, apesar do habitual “Toque de Alvorada” sempre cedo, foi muito “light”. Andamos apenas na parte da manhã até Sahuayaco, pequeno município onde, na periferia do mesmo foi montado o terceiro acampamento.


Tensão...





Após o almoço, com uma van, por S/.10,00 por cabeça pelo transporte, fomos à Sta. Teresa onde há um lugar de águas termais a 35°C. de temperatura. Enfim, um banho!


Depois de dois dias... Um banho ! ! !

O local é de acesso grátis por enquanto, pois está sendo reconstruído devido anteriormente, a cerca de três anos, ter sido soterrado pelo deslizamento da encosta do morro ao seu lado através de fortes chuvas. Tal reconstrução está sendo realizada encostada ao mesmo morro, novamente...

Voltamos a Sahuayaco em ritmo de férias. Leves pela crosta epidérmica deixada nas correntes das águas termais.

Havia em algum lugar do acampamento, acho que na cozinha, um estridente rádio sintonizado numa emissora local ou de cadeia nacional que, com muita frequência  entrava com uma  vinheta, gritando apaixonadamente: “Arriba Peru!!!”  Para os peruanos, uma exaltação patriótica; para nós brasileiros, erótica...

Estávamos em dois grupos acampados no mesmo local. O outro grupo era quase só de franceses e tememos por uma escaramuça internacional pois, o belga, o Koan, dirigia-se, de longe, aos franceses, falando e fazendo biquinho com os lábios imitando a maneira e trejeitos  destes falarem.
Quase deu briga.

Tinha um peru (a ave) solta por ali com a cabeça mudando de cor frequentemente a medida que ficava nervoso, mostrando-se ameaçador com suas asas abertas e bico pronto para atacar qualquer um. Uma integrante do grupo dos franceses mostrava-se a mais amedrontada entre todos a ponto de se encolher com as pernas em cima da cadeira. O “crica” do Koan, ao ver aquilo começou a jogar pipocas para o peru, próximo e até encima da desesperada francesa (sem conhecê-la formalmente) para que este, o peru, fosse apanhá-las.
Outra vez, quase deu briga.

Não se pode, neste País, dizer que no Brasil aquela ave chama-se também “peru”, sem criar sérias animosidade e represálias como que: no Peru, os porcos são chamados de ”brasil”. Entrei nessa sem querer mesmo justificando depois que não havia associação nenhuma entre a ave e o País deles.

A noite, foi improvisado um “luau” pelo bar vizinho com fogueira, luzes piscando, som de música: pop americana, típica peruana, argentina,  axé e lambada brasileira... etc. Além, é claro, de muita bebida. Mantive-me com certa reserva para não comprometer o “projeto”.

Na manhã seguinte do quarto dia, cedo de novo, fomos acordados para mais uma longa caminhada. Desta vez completaríamos o percurso chegando em Aguas Calientes.

Longa, repito, caminhada, porém tendo como bálsamo habitual, os visuais sempre surpreendentes e bonitos dos Andes peruanos depois de cada curva do caminho.



Quem disse que de pedra não verte água ???



A tarde passamos pela Hidrelétrica já de Machu Picchu e começamos a margear a famosa ferrovia que culmina também na nossa meta.

Nossa "trupe"  (só tinha "artistas"...)

Foi por estas paragens que vimos os primeiros místicos, vestidos de branco, que devem ter descido na estação anterior e seguiam a pé para a pé chegar na “Montanha e Cidade Sagrada”.


Místicos à caminho da Mítica Cidadela

Numa das placas da ferrovia estava pichado: “Coragem Chicos” (Tchicos) insinuando que faltava pouco.

Machu Picchu e Waynapicchu

A tardinha chegamos a Aguas Calientes, colada à base da montanha Machu Picchu em cujo topo se encontra a mítica cidade de mesmo nome. Ali tínhamos hotel para dormir como gente civilizada e... Descansar!... Descansar? Ledo engano...

O guia nos informou que, se quiséssemos conseguir vaga para subir o Waynapicchu (e era tudo o que eu queria), teríamos que acordar bem cedo.

Explicando: O Waynapicchu é aquela grande montanha que, nas clássicas fotos de Machu Picchu, aparece nos fundos.

Como o interesse por esta escalada é grande, têm-se que entrar numa aguerrida competição em que somente as primeiras 400 pessoas a chegarem nos portões de ingresso a M.P.,  é que conseguem o carimbo no ingresso com a respectiva vaga. À escolha de cada um, 200 pessoas sobem às 07:00 hrs e as outras 200, às 10:00 hrs.

Para isso, continuou a nos explicar o guia, teríamos que acordar às 03:00 hrs!!!, sair do hotel (sem café da manhã) e rumar à pé para o portão de acesso inferior de M.P. e ali esperar a abertura do tal portão às 05:00 hrs para subir a pé as escadarias Incas na montanha de cerca de 400 mts de altura até as bilheterias da famosa cidadela Inca pois, se esperássemos pelos primeiros ônibus que leva o “povo” lá prá cima, não teríamos a mínima chance de conseguir uma  vaga.

Quando cheguei às 04:00 hrs aos pés da referida montanha e seu acesso, já havia gente lá mas, não mais que 60 pessoas. Número este que aumentou consideravelmente até o “início da corrida”.

Aberto o portão às 05:00 hrs, céu ainda estrelado, lanterna na mão, começou a desabalada carreira morro acima. Que sufoco. Nem para beber água se podia parar para não perder posições. Vi  gente vomitando. Quanto mais alto se subia, maior era o frio, o suor e a fadiga. Por várias vezes se atravessa a estrada de rodagem que serpenteava enquanto que nós subíamos quase que em linha reta numa grande inclinação.

Que alívio quando se abriu uma clareira toda pavimentada e com a visão novamente do céu, ainda estrelado! Cheguei e não havia mais que 50 pessoas na minha frente.

Antes de abrirem-se os portões de M.P., recebi com satisfação, como um troféu, o carimbo no meu ingresso para as ruínas, habilitando-me para acesso ao Waynapicchu às 10:00 hrs.

Às 06:00 hrs. Abriram-se os portões para entrar-se em Machu Picchu. Parecia um sonho que aquilo estava acontecendo. Depois de 40 anos...

No topo da montanha de Machu Picchu


Quanto a visão da “Cidade”, só posso dizer uma coisa: É mais do que se vê em filmes e fotografias!

Nosso grupo foi reunido pelo guia e este começou uma muito longa explanação em inglês sobre as ruínas. Como eu não queria perder tempo esperando pela minha vez de ouvir tudo de novo em espanhol, e como não desejava que o restante do grupo perdesse seu tempo esperando as explicações somente para mim, me afastei e sozinho, como gosto, e comecei a explorar a “Cidade”.










Estou prá lá, prá cá e para acolá quando de repente me vi na famosa praça onde se localiza o  monolito esculpido  Intihuatana, que significa “lugar onde se amarra o Sol”. É como um Relógio Solar que era (e é, acabei vendo) usado para marcar as estações do ano através da incidência do sol no apêndice superior da grande rocha esculpida com a consequente projeção da sua sombra no chão.
A Pedra de Intihuatana - O Relógio Solar

Ao chegar nesta local, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas ali. Inclusive muitos místicos e/ou esotéricos. Havia também um “esquisito” com uma enorme concha marinha nas mãos. Grande quantidade de câmeras esperando determinado momento para clicar...


Pergunta prá um pergunta prá outro, todos não querendo desviar o olhar da tal pedra esculpida. Havia tantas pedras por ali mas no momento era só aquela que interessava. Olhavam também para as montanhas do lado Leste. E eu sem saber porque...

Pois, “cri-crí” como sou,  fiquei sabendo! Era dia de Solstício de Inverno!

Aquelas pessoas estavam esperando o Sol surgir (nascer) por detrás das montanhas para, com seus raios, iluminar o apêndice da pedra Intihuatana para que através da sombra deste projetado no chão do pátio, fazer-se a leitura dos prognósticos para os próximos 12 meses.

Passei a cuidar da montanha onde o clarão do Astro Rei era cada vez mais forte. De repente, surgiram os primeiros raios, fotografei-os!!! O sujeito com a concha marinha começou a entoar  com ela um lamurioso som, saudado a nossa Estrela Maior. Não sou místico nem esotérico mas, como “a ocasião faz o ladrão”, me emocionei.

Foto Feliz (no lugar certo na hora certa)

O fato se o Sol ter surgido limpo (sem nuvens) já foi considerado um bom sinal. Ao lançar a já descrita sombra sobre o “Olho do Jaguar” foi definido como um bom ano a seguir.

O Olho do Jaguar

Quantos esotéricos estudiosos pelo mundo não dariam um dedo para estar ali naquele momento... E o “lindão” aqui, “entrou de gaiato”, sem nada programar!!!

“Escarafunchei”  M.P. o quanto pude...

Por uma trilha, fui até a “Ponte inca”, que por ser longa (a trilha), pouco visitada em relação à Cidade. Incrível novamente! Fizeram eles, encostado a um enorme paredão vertical da montanha, uma parede artificial de pedras para servir de apoio para uma ponte (de madeira certamente). A questão é com colocaram as primeiras pedras naquele precipício... E apoiadas em que... e os trabalhadores apoiados onde... Quinhentos anos ou mais se passaram e lá está a estrutura pendurada no paredão. Firme e forte.  Ali na “Cidade” há outros exemplos semelhantes.
Ponte del Inca


Quase 10:00 hrs. Hora de subir o Waynapicchu. Dirigí-me ao portão de acesso, me identifiquei, mostrei o carimbo de permissão e comecei nova e penosa subida. Novamente uma escadaria Inca. Sobe-se os cerca de 350 mts  acima de Machu Picchu sempre pela mesma face da montanha. Muito íngreme, quase em linha reta.

Montanha de Waynapichu ao fundo - Rumo ao seu topo
 Há trechos em que as escadas são muito estreitas e curtas, com os seus degraus mal cabendo a metade do calçado. Às vezes nos encontramos subindo sem ter onde apoiar as mãos, sentindo-nos como que pendurados no espaço... É uma maneira fácil de, com um desequilíbrio ou escorregão, ”oferendar-se” em sacrifício à Pachamama neste propício dia de solstício.

A "ESCADA DA MORTE" Quase no topo do Waynapichu

Foi uma surpresa para mim encontrar lá em cima também, portentosas edificações.

Apesar de maravilhosas, há algo de insano nestas obras dos Incas...

Topo do Waynapichu. O zig-zag é a estrada de rodagem de
Aguas Calientes para Machu Picchu, a qual é vista "sobre a minha cabeça".

                                                           Topo do Waynapicchu


                                                                  (foto da WEB)
Descendo a "Escada da Morte" no Huayna Picchu em direção a Machu Picchu


Curtido e fotografado o visual, hora de descer as duas montanhas (Wayna e Machu Picchu) e ir para Aguas Calientes. Missão cumprida! O que vier agora é lucro!

Machu Picchu está completando 100 anos de “sua descoberta para o mundo”, pois esteve perdida para os olhos internacionais por séculos até que foi reencontrada (para o mundo) pelo americano Hiram Bingham em 1911, levado por pessoas que conheciam e viviam próximas à Cidade “Perdida”. Na realidade, M.P. nunca esteve totalmente perdida... Dizem.

Como fato profundamente lamentável, ao vir embora esqueci de firmar meu passaporte com o carimbo alusivo aos “100 anos de M.P. para o mundo” no portal daquela Cidade... Tragédia!!!

Fiz um “tour” por A. Calientes. Sinuosas e estreitas ruas em aclives subindo pelos morros vizinhos abarrotadas de lojas, bares, hotéis, hostais, pousadas, restaurantes, lan houses... etc. Tudo de que pode precisar o turista. Muita gente, mesmo fora de temporada.

Cidade de Aguas Calientes




 À noitinha partiu o trem para Ollantaytambo. Não é prático ir até Cusco de trem, salvo por questão de opção de passeio. Em Ollantaytambo tínhamos um ônibus a nossa disposição que nos levou até o centro Cusco. Ali houve as despedidas entre a maioria dos integrantes do grupo. Gente que passamos a gostar e que nunca mais veríamos.

Na Rua, sem destino...

Pois é, Depois de ter feito a Trilha durante cinco dias, naquele dia ter levantado às 03:00 hrs, ter “competido” na subida de M.P., ter caminhado muito pela ruínas, ter subido e descido o Waynapicchu, ter ficado sem café da manhã e sem almoço, ter esperado por horas o trem, ter caminhado por Aguas Calientes, ter feito a viagem de trem, ter feito a viagem de ônibus até Cusco e finalmente ter caminhado até o “meu” hostal, tive a grata surpresa de saber que este estava lotado e que haviam esquecido de fazer a reserva para mim conforme prometido... Ri.

Rindo, saí para a rua procurando o hostal mais próximo. Encontrei uma vaga porém... “- ahora no tiene agua”, informou o senhorio... Ri  novamente...

Corpus Cristi em Cusco

Cusco estava ainda mais cheia. Amanheceu sob o clima da festa de Corpus Cristi. Muito importante e concorrida por aqui. Também muito colorida.

Como sempre, a festa era na Plaza de Armas. Tem-se por costume que cada vilarejo vizinho mande à Cusco sua comitiva com sua banda de música. E o mais importante: Seu Santo Padroeiro ricamente paramentado sobre um andor. Esta comitiva sai lenta e solenemente em procissão em tono da praça conduzindo o seu andor com seu Santo, acompanhada por sua respectiva banda de música.

E assim é com cada povoado. Este ano foram cerca de dez.




Maras & Moray

Estávamos às vésperas do “Inti Rayme” e a Cidade estava em polvorosa, lotada e descompassada. Mesmo assim, apesar de parados os “tours”, conseguimos, eu e um casal de brasileiros, um carro dirigido por um guia profissional para nos levar às Salinas de Mara e ao sitio de Moray pelo mesmo preço de um tour comum. Tive sorte de encontrar os brasileiros pois não queria deixar de conhecer estes lugares e eu já estava no fim das minhas atividades por aqui. Rodamos mais de 120 Km por S/.20,00 (R$11,40) cada um. Eu me sentia como um Norte Americano gastando dólares pelo mundo!



                                                     São mais de 5.000 células como estas.

Conforme se pode ver nas fotos, estas salinas de Mara são pequenos tanques que são cheios com uma água vulcânica que sai à luz vinda das entranhas da Terra, altamente concentrada em sal. Cheios os tanques, fecham-se as respectivas comportas e a água entra em processo de evaporação por cerca de três meses sobrando apenas o sal, que é retirado em três camadas. As superiores mais nobres e usadas para exportação para consumo humano. As demais para alimentar animais e outros usos. Inclusive na agricultura.

Esta exploração é de sistema cooperativo onde os habitantes do “Pueblo” vizinho são os proprietários divididos por entre os diversos tanques.

Diz-se que a exploração deste sal data de era pré-incaica.
---------------------------------
Dalí fomos para Moray.

Outro sítio arqueológico, porém este voltado para a agricultura.

É composto de muitos terraços circulares concêntricos e que eram destinados a pesquisa e produção de alimentos vegetais. Fala-se que a diferença de temperatura na terra entre o terraço superior e o mais inferior, pode chegar a 15°C. o que permitia a pesquisa de plantas que mais se adaptavam aos mais variados lugares das regiões abrangidas pelo Império Inca.

Também, em função destes micro-climas, era possível o cultivo e colheita de plantas de diversas regiões e climas num só lugar, diz-se.

Também é incrível o fato de, se tratando esta construção ser basicamente uma cratera dentro de um vale, a sua parte inferior, o círculo menor, nunca alaga com as chuvas pois havia e há um sistema de drenagem neste último terraço que canaliza a água... não me perguntem prá onde... Como já disse, este sítio fica no fundo de um vale e, segundo pesquisas, os Incas devem ter furado os morros ao redor para fazer esta canalização para a evasão da água acumulada.


                                                 Note-se uma pessoa no círculo inferior.

Escureceu e voltamos para Cusco. Dias apertados em atividades.

Inti Raymi
Amanheceu com Cusco em festa! (novamente!).

Era o grande dia do “Inti Rayme”, “Festa do Sol”. Festa de Cusco comemorando seu Jubileu.

Esta era uma festa tradicional Inca. A sua festa máxima porém, foi proibida de continuar a ser realizada pelos colonizadores espanhóis temendo que, pelo acúmulo de subjugados reunidos num mesmo espaço, pudesse  haver uma insurreição.

No ano de mais ou menos 1943, esta tradição foi retomada e hoje, atraí pessoas de todos os lugares, inclusive de além mar. E mais uma vez lá estava eu, sem nada ter programado...

Esta tradicional festa é uma representação teatral com cerca de 700 figurantes, todos devidamente paramentados. Muitos tambores e flautas. Muita dança. Muitas cores.

Tudo começa no Qorikancha (Templo do Sol).

 A figura central e que conduz a cerimônia é o Chefe Inca que começa entoando:

Sol Meu!  Pai Meu!
Com Muita Alegria
Te Saudamos...     

E por aí vai... mas, tudo entoado em quéchua, a língua original Inca e que até hoje ainda é muito usada em Cusco; aprende-se em casa com os pais e é aperfeiçoada nas escolas.

Depois a trupe e a multidão que está assistindo se deslocam para a Plaza de Armas para a segunda parte da representação.

Na tal praça, antes do elenco chegar, tocam-se os hinos Nacional e de Cusco e depois, pasmem, numa clara manifestação de sincretismo religioso, é feito, nas escadarias da Catedral, um ato litúrgico católico e em seguida,  chegando os “Incas”,  a continuação da representação religiosa “pagã” é exatamente ali...   Aliás, é muito comum, principalmente nos pequenos povoados, pessoas saírem da missa e irem prestar tributos à “Inti” (o deus e pai Sol) e à Pachamama (deusa e mãe Terra). Tudo tolerado pela Igreja Católica afim de manter seu rebanho. É assim desde a colonização quando se angariou os primeiros cristãos indígenas.

                                                          Inti Raymi - Plaza de Armas

Terminada a peça na praça, aquele “mar de gente” misturado com veículos se desloca para os morros que circundam Sacsayhuaman e espera por cerca de três horas para assistir o ponto culminante do enredo.
Há arquibancadas com cadeiras ao redor da praça de apresentações pela bagatela de US$140.00 (dólares).

O público pelos morros de Sacsayhuaman à espera da apresentação final.





Terminada a festa, lá se foi mais um dia.

Qorikancha, Sto. Domingo e Convento de Sta. Catalina

Hoje, dia de, às 12:30, tomar o ônibus para Lima. Porém ainda faltava visitar o imperdível museu  Qorikancha/Convento de Sto. Domingo.

Que coisa maravilhosa a perfeição do entalhe nas pedras naquele sítio! As mais perfeitas vistas! Também as edificações são perfeitas em suas linhas, esquadros, verticalidade, horizontalidade, simetria de ângulos... etc.

Neste local foram preservadas algumas partes de construções Incas mas também, sobre grande parte dela, se erigiu a Igreja e o Convento de sto. Domingo, também muito bonito e secular.





Qorikancha "dentro" do
Monastério de Santo Domingo


Voltando para a hospedagem para apanhar a bagagem. No caminho visitei o museu do Monastério de sta. Catalina de Sena do início do séc.  XVII. Também edificado sobre bases de construções Incas. Foi destruído em 1650 por um terremoto e reconstruído novamente e se encontra da mesma maneira até hoje.


Museu do Monastério de Santa Catalina - Cusco

Como tudo nesta viagem, uma volta no tempo. E isto “mucho me gusta”.

 Monumento a Pachkuteq

Deixando a bagagem no Terminal Rodoviário, fui, ali perto, visitar o Monumento a Pachakuteq, grande chefe Inca.

Este monumento tem uma base (pedestal) de 1.402 pedras poligonais com 22,40 metros de altura. No seu interior há um museu disposto em nove andares.

No topo desta base (onde se consegue chegar), há a escultura em bronze do Chefe Inca Pachakuteq com 11,50 metros de altura e 17 toneladas deste material (bronze). A imagem foi fundida em 864 peças diferentes e foi o quebra-cabeças montado no seu local definitivo.

                         

Diz-se que o monumento foi feito para durar 5.000 anos...

Ufa!!!   Agora pegar o ônibus e, durante a viagem, descansar um pouco nas próximas 20 ou 22 horas.

Lima
Cheguei a Lima às 09:30 hrs. Eu tinha menos de 24 hortas para conhecer o que pudesse da cidade e, algumas coisas eram imperdíveis.

No terminal de ônibus apanhei um taxi recomendando ao motorista que gostaria de ficar num hotel ou pousada de preço acessível e próximo à Plaza de Armas.

Deixou-me no Hotel España.

Uma atração à parte este hotel. Prédio do Séc. XVII ou XVIII. Era uma antiga mansão pertencente à algum nobre da época. Seus corredores são uma verdadeira galeria de arte com réplicas de esculturas famosas e pinturas originais em ricas molduras.

No último piso (3° ou 4°) onde se toma o “desayuno”, um mini-zoológico com papagaios, pavões, araras,  tartarugas...  Todos soltos. E muito verde.

Fiquei num quarto por S/.35,00 (R$19.95). Café da manhã à parte (S/.9,00 ou R$5,13).

Hotel España:
Jr. Azángaro,105 – Lima (a 20 metros da Igreja de S. Francisco – três quadras da Plaza de Armas).Fones: (51-1) 428-5546 / 427-9196



"Meu" hotel em Lima. Uma galeria de Arte!

Tomado um banho, sem perda de tempo saí para “luta”.

Biblioteca e Catacumbas de San Francisco

Já a 20 metros do meu hotel, a colonial e magnífica Igreja de San Francisco. Sua primeira edificação data de 1564. No século seguinte o conjunto foi reformado e decorado com fausto, tornando-se uma obra-prima da arquitetura colonial. Porém suas fundações não eram sólidas o suficiente para enfrentar abalos sísmicos, e em 1655 um terremoto destruiu o templo e todos os tesouros do interior. A versão atual foi inaugurada em 1672. Lhe é conferida o título de Basílica Menor pelo Papa João XXIII. Anexo a esta, o Mosteiro, do mesmo nome e época.

                                                      Mosteiro e Igreja de San Francisco
Neste Mosteiro há uma visita guiada conduzindo-nos pelos gastos piso do secular reduto religioso. Coisas muito bonitas, arquitetura linda, afrescos em paredes e alguns descobertos recentemente, por acaso, debaixo de outras pinturas nestas paredes. Pinturas em quadros de valor incalculável. Tudo preservado como foi concebido.

Apesar dos pesares, como não creditar aos antigos religiosos, de todo o mundo, a sua contribuição para a cultura e a arte?

E a Biblioteca!!! Nunca esperei  ver uma coisa destas na vida apesar de saber de existir mas, não na América do Sul e naquela quantidade. Livros e mais livros, cerca de 25 mil volumes entre livros, manuscritos, pergaminhos... Alinhados em várias prateleiras de várias estantes. Parece que irão desmanchar-se só de olhá-los de longe pois têm a maioria deles cerca de 300 anos, alguns chegam a ter idade de 600 anos. Havia um missal com folhas de pele de vitela ou cordeiro com cerca de meio metro de altura, aberto em uma das páginas, com Iluminuras e caligrafia com uma perfeição difícil de acreditar que foram feitas manualmente. Sabedor da grande cultura dos antigos missionários, perguntei ao guia se ali também existiam livros apócrifos ao que ele respondeu que sim. Nesta biblioteca malmente se pode chegar à entrada da mesma. Tocar e fotografar... nem pensar.

Batendo três vezes na madeira, perguntei ao guia sobre a prevenção de incêndios... Bati novamente três vezes na madeira! Ainda com mais força.

E, saciando nosso lado sombrio, as sempre atrativas catacumbas; que se estendem por debaixo do piso do Convento e da Grande Igreja já mencionada. Não é recomendada a visita para pessoas claustrofóbicas,  visto o labirinto subterrâneo que se percorre.

Em tempos primordiais, era costume que as pessoas fossem sepultadas na própria igreja, nestas catacumbas. Com isso, devido o limitado espaço, apesar de enorme, tinha-se que liberar espaço periodicamente então, a quantidade de ossos humanos que sê vê  aos montes, empilhados fora de covas, é de impressionar qualquer dono de antiga fábrica de pentes e botões.

Foi necessário baixar um decreto em certa época obrigando as famílias a enterrar seus mortos em cemitérios.


O centro de Lima

Fui à Plaza de Armas onde se encontra o enorme Palácio do Governo do Peru. Ali também está a belíssima Catedral de Lima que, por ser dia celebração de Corpus Cristi, a missa era campal e a igreja se encontrava fechada. É o único dia da semana, domingo, que a mesma é aberta livremente. Nos outros dias, somente em determinados horários como visita guiada e com acesso também ao seu museu. Perdi.

Casa do Acerbispado e Catedral - Praça de Armas - Lima
                                 
                                                            Nicho na fachada da Catedral
Palácio do Governo de Lima - Peru




Visitei a Praça San Martin (onde, nas cidades de países Sul Americanos de colonização espanhola, não existe uma Praça ou Avenida San Martin “O Libertador”?).

Praça San Martin - Lima

Subi de van, através de um “City Tour”, a Colina de San Critobal. Tem 400 metros de altura e parece que temos um visual através de uma cortina opaca devido à costumeira névoa que paira sobre a cidade.

Mesmo assim, entre outras coisas, deu para visualizar uma “Praça de Touros”, que ainda está em atividade e que os animais (os touros...) ainda são mortos... Por espetáculo e por esporte.

Arena de touros - vista do Cerro San Cristobal
Cerro San Cristobal - Lima

Cerro San Cristobal - Lima - 400 mts altitude

Lima é uma cidade litorânea fundada pelo conquistador espanhol, Francisco Pizzarro, em 1535. Tem um clima muito estranho. Praticamente chove tão somente em junho, julho e agosto. No resto do ano as plantas sobrevivem graças aos vapores da água do Pacífico que se condensam na madrugada. A cidade amanhece sempre orvalhada, chega a formar poças de água no asfalto.

Praticamente tem sol  tão somente em janeiro, fevereiro e março, quando faz um calor insuportável. Nos nove meses restantes, está sempre coberta de névoa. Nunca com céu limpo.
Trânsito caótico, uso indiscriminado das buzinas dos carros. Algumas buzinadas, como parei para observar, sem o menor sentido. E veja que não me refiro àquelas em que o condutor buzina para o carro da frente avisando que o sinal ficou verde. Um inferno.

Dentro de restaurantes e lojas, as TVs e sons ambientes têm seus volumes colocados de forma estridente. Some-se a isso, as buzinas que são acionadas lá fora e ecoam para dentro do estabelecimento.

Se quiser ter emoções, apanhe um taxi e rode pelo centro da cidade por uns 10 minutos. É um tal de “se enfiar” de fechar e ser fechado, e dá-lhe buzina.

Miraflores
Desloquei-me, de taxi, até Miraflores para fazer um recomendado “Tour” por aquele lugar que pertence à grande Lima apanhando o ônibus turístico ”mirabus”.



 É a parte moderna e litorânea da cidade, com muitos jardins, parques e construções modernas, diferente da Lima Colonial/Neoclássica.

O Céu de Lima é sempre assim...


A Lima moderna
O mais interessante neste “tour” foi a passagem pelo Sitio Arqueológico de Huaca Pucllana. Povo de cultura lima, que data de mais ou menos 100 a 600 anos d.C.

São interessantes construções deste sítio. São feitas de tijolos de adobe compostos de argila, clara de ovos e conchas marinhas.


Voltei ao centro de lima de ônibus coletivo (têm-se que conhecer tudo) que são em geral pequenos e mal cuidados. O mesmo com uma tripulação que, além do motorista tem um cobrador que fica desesperado subindo e descendo do veículo angariando passageiros “à laço”. Cada grupo de pessoas que ele vê na calçada, independente de estarem num ponto de parada de ônibus ou não, recita em altos brados o itinerário do transporte encarando os prováveis “clientes” sem que estes dêem a mínima atenção à ele, que nunca cansa ou desanima.

Também é interessante observar que os ônibus apanham e “desovam” passageiros em qualquer faixa da rua. Mesmo sendo avenidas largas, o passageiro é pego ou largado à sua própria sorte no meio de outros veículos em movimento.

Existe em Lima um sistema de transporte coletivo que lembra o de Curitiba, com ônibus articulados que trafegam em pistas exclusivas porém me pareceu ainda em início, a grande maioria do transporte de massa é como aquele descrito acima.

“The End”
Acabou mais um agitado dia. Depois do Hotel, voltei à Plaza de Armas para vê-la à noite.  Amanhã... “Go home”. Devo estar no aeroporto bem antes das 14:30 hrs., horário do vôo para S. Paulo porém, ainda aproveitaria a parte da manhã para mais alguns passeios pelo centro da cidade. São lindas as muitas igrejas coloniais de Lima.

Catedral de Lima
Igreja de San Francisco


Igreja La Merced
Convento de Santo Domingo


Também me chamou a atenção os muitos balcões pela cidade. Espécie de sacada coberta e fechada, de madeira, que são fixadas no primeiro andar de muitas edificações. Alguns destes balcões são rica e minuciosamente entalhados. Conferem algum “status” aos prédios que os ostentam.



Bem, as fotos devem complementar, em parte, o que não consegui explicitar até que você vá lá (se nunca foi) pessoalmente conferir.

27de junho de 2011.




       Nilceu Mario Moro   

(fotos e texto: Nilceu Mario Moro)
     
 moronilceu@gmail.com  

Junho de 2011
_________________________________________________________________________________











  •  Atenção ! ! !:
    Você poderá vêr também neste Blog:
                                    
                  *** DO ATLÂNTICO AO PACÍFICO (de moto)

                 *** ROTA DAS MISSÕES Jesuíticas/Guaranis (de moto)...

                 *** QUATRO REGIÕES BRASILEIRAS;UM ACIDENTE DE MOTO...
  • *** "CANAL DU MIDI", França (de bike), e um pouco da Espanha.

  •             






    5 comentários:

    1. Estou precisando da "impulsividade responsável com algumas pitadas de irresponsabilidade" para realizar meu sonho de viajar para o Peru! Para mim, viajar pra lá será mais que uma viagem: será um sonho realizado, uma aventura, um grande aprendizado, nao sei identificar ao certo o que será! Apenas sei que representa algo bom em minha vida! Aquelas montanhas me chamam há algum tempo. Toda vez que vejo fotos e relatos, assim como os seus, minha vontade de conhecer o Peru aumenta mais e mais! abraços

      ResponderExcluir
    2. What an amazing and beautiful journey! Thank you for taking us along visually and with your journaling. There is so much to take in that I will have to visit again :)

      One day perhaps, I will be laying my own eyes on Machu Picchu as it's always been on my list of 'things to do before I die'

      ResponderExcluir
    3. Nilceu, que viagem maravilhosa, aproveito para parabenizá-lo por toda essa energia que te move, você nos deu uma aula de conhecimento de toda essa história. Mais uma vez PARABÉNS, à propósito quem escreve é um grande amigo do seu irmão Nilton.
      Paulo Costa ( Fio 10 ) lembra?

      Abraços

      ResponderExcluir
    4. Bom ler novamente seu relato de viagem ao Peru, pois isso me faz lembrar que também vivi momentos inesquecíveis neste país cheio de historia, magia e boas energias que é o Peru! Tenho uma saudade de Lima! Estou pensando em voltar em breve!
      Seu blog é fantástico! Parabéns, Nilceu!

      ResponderExcluir